quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Antes de começar

Uma clave de sol, seguida de algumas consoantes. Uma pausa e um ponto me indicando que eu deveria repetir tudo mais uma vez, eu estou cansado e balanço minha cabeça protestando meus direitos. Eu quero levantar um pouco mais o tom, parar de permitir minhas palavras soarem através de gestos, mas parece impossível para alguém que acredita nisso. Eu penso no céu nublado que vi hoje à tarde, e no modo como as nuvens refletiam aquele sol pesado nos meus olhos, me fazendo cego. Eu odeio me fazer cego, odeio cegueira, odeio cegos por opção. Aquela rua movimentada cheia de psicanalistas me dizendo pra onde andar, me dizendo em qual direção olhar foi demais pra mim, eu simplesmente ignorei todos eles e me fiz entender. Eu não sou seu, tenho opinião, tenho uma voz, e a usei.

Eu desenho nesta rede tão cheia de choques todo meu plano. Cinco pessoas em uma principal falando sobre o acreditam sem dizer uma palavra. Espera, sem palavras? Me esqueci, pensei que tinha dito querer falar um pouco, expressar um pouco, abrir esta boca. Talvez em outra ocasião meu rapaz, talvez em outra ocasião. Se você quiser chocar alguém, mexer com sua alma, precisa de palavras pesadas, imagens pesadas, sentidos pesados. Visual. Isso, setenta e cinco por cento das pessoas, ou mais, são visuais. Isso me lembra que não ensaiei nada para o casamento da minha antiga melhor amiga de infância, e ainda preciso tocar com um professor. É realmente perdi a noção do tempo olhando pra estas nuvens.
Um menino mais novo, uma meninas dois anos mais velha, ambos sobre um patinete em um filme rodado quatro anos atrás. Porque todo filme na casa de outras pessoas parece melhor do que na nossa? Sempre me esqueço de perguntar isso. Talvez quem me visite pense o mesmo, talvez quem enxerga meu acervo musical no computador pense o mesmo, talvez o gramado verde do vizinho realmente expanda-se mais verde que no nosso. Questão de espaço, de mente, sem importância alguma. A única grama que eu preciso tem se mostrado tão verde que não sinto vontade de olhar para jardim algum, em nenhuma parte. Eu me sinto feliz pela minha cisterna, e consigo sentir o que meu pai me ensinou um dia. Isso me faz feliz.

Eu deveria arrancar esta pilha de papel branco da minha parede, expõe-se agradável, mas me remete alguma aurora infurecida mesclando-se a parede. Não gosto de camuflagens, não gosto de segundas histórias, segundas faces, segundas intenções, eu evito isso, eu acabo com isso, com todo este tipo de falsidade. Entrando em algum idioma degradante, eu não suporto o tato que certas pessoas tem com necessitados. Mas quem sou eu pra julgar, já devo ter cometido meus próprios pecados, minhas próprias acusações. Não, eu não estou aqui para atirar no peito de alguém, a última alternativa que pretendo assinalar agora, nesta hora da manhã, é a execução da criança que não soube o que fazer e desistiu mesmo antes de começar. Falência, é como eu definiria. Não julgo.

Eu me dei conta do quanto estou disposto a me empenhar...

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