segunda-feira, 13 de setembro de 2010

No tomorrow


Três anos e eu mal lembro da sua voz, três meses e eu sinto que perdi tudo, três dias e o meu coração dispara incontrolado. Quem sabe se ele me visse, quem sabe se ele soubesse o que me tornei, quem sabe se em algum lugar do tempo em que ele voltou pra casa ele me enxergasse agora. Eu imagino o que ele diria, imagino qual seriam as suas escolhas, seus conselhos, suas exortações. Ele olharia pra mim e eu veria decepção nos seus olhos, desprezo por sentir tudo que eu não consigo ser, eu simplesmente não consegui manter a linha tão surrada pelo vento e enxergar onde estava andando. Quem sabe eu confiei em quem não devia, me entreguei ao que não devia, me perdi no meio do caminho e isso assusta o mais profundo da minha alma. Perder uma vida, meu presente, nenhum amanhã. Ele diria que fomos fracos, que não soubemos fazer escolhas ouvindo a voz de alguém sábio, diria que deixamo-nos levar pelos sentimentos, que ouvimos nossas vontades, nossos caprichos, e como crianças mal-criadas corremos para a escuridão.
O tempo nos machucou. A vida nos feriu, nos cortou, empurrando contra a parede nossa alegria, nos sufocando pouco a pouco, e a cada momento de dor, nos contraímos contra o próprio corpo. Depois de tanto tempo sendo machucados constantemente, sem esperança, sem força, sem fé de que uma solução rompa este nevoeiro tão escuro nos perdemos, enlouquecemos, morremos. As feridas foram tão marcadas, tão frequentes que o corte permaneceu aberto. Fomos machucados demais. Vivemos correndo, fugindo, dormindo com os olhos abertos, sobrevivendo com os olhos fechados sem ouvir nenhuma voz e isso acabou com a história. Perdemos o nosso bem mais precioso, perdemos a força pra nadar até a praia, perdemos o fôlego no fundo do mar.
Sabe quando sua vida é colocada em uma direção? Você sabe quando para sobreviver e ver seus sonhos cumpridos precisa manter-se no caminho vermelho e não andar a passos largos. Eu vivo o momento em que você não sabe se vai chegar ao fim. Eu vivo o momento em que as pessoas falam sobre as outras, eu vivo o medo de morrer, vivo a falta de ar que atormenta todo meu mundo. Você não sabe como é escuro aqui dentro, você não sabe como é difícil e complicado viver esta vida, você não conhece meus bastidores e as pessoas que andam por ele, porém se conhecesse me desprezaria, me odiaria, e quem sabe julgaria.
Toda essa obsessão pelo tempo certo, pelo cumprimento da história, pelos pedidos sem resposta, pelas pessoas sem amor, por encontrar meu coração perdido é uma grande mentira. No final, quando você está só, tudo que lhe resta é uma vida moída, um trapo de carne, uma ferida aberta e esta é a feia verdade. Toda verdade se tornou mentira, todo sonho se tornou cinza, todo amor se tornou indiferença. Indiferença mata.
Se houvesse uma maneira de voltar para editar erros, eu estaria cansado demais pra levantar meus dedos. Eu estou cansado demais pra me esforçar, pra me sacrifar e tornar vivo o mocinho desta história. Eu simplesmente cansei de clichês, de lutar contra tristes realidades, contra monstros e suas unhas gigantes. Eu larguei a minha história aos pés de quem me contaram que podia resolver. Saí caminhando sem rumo, me entreguei ao tempo e espero.
Deixo claro meus pontos: Sua história nesse mundo é difícil, dolorosa e áspera. Seus amigos neste mundo duram o tempo que você puder cumprir uma constante de irritação em frente a calma. Ninguém neste mundo pode lhe salvar de nada. Amor não é perfeito, paixão não é perfeita, alma, espírito e carne não são perfeitos, erros são reais e pessoas fora da condição correta são a maior praga que este mundo já viu. Eis me aqui.
Não lembro do meu pai, tenho dificuldade em lembrar o que fiz ontem, me preocupo com isso. Amo as pessoas que passaram pela minha vida. Maior medo: Deus desistir de mim. Não me importo com o que as pessoas falam ou pensam a respeito da minha salvação. Me importo com o que as pessoas que amo e confio pensam de mim. Sou falho, imperfeito e pendente ao erro. Não desisto de encontrar a solução para os problemas. Tenho sonhos grandes demais. Quero o cumprimento do impossível. Perdi aquela fé genuína de que tanto falavam, ou ela se escondeu dentro de mim e eu nem percebi que a possuo o tempo inteiro. Conselho: Nunca julgue uma pessoa confusa, assim como eu me sinto agora. Pode ser você amanhã, mas ninguém dá a mínima pra isso. Somos todos iguais.
Eu queria poder dar mais um abraço de cinco minutos daquele que meu pai me dava, queria poder mostrar pra ele que aprendi a tocar violão, queria poder dizer que ele estava certo sobre os meus seriados, queria contar pra ele quem morreu, quem viveu, queria poder dividir as experiências incríveis que vivenciei, queria poder orar com ele como nunca fiz. Queria que ele pudesse enxergar que me mantive em pé nos momentos difíceis, queria poder receber aquele conselho que ele disse me dar no momento certo, mas que foi levado com ele. Queria poder dizer que o amava mais uma vez, ouvir sua voz, como será que ela soaria agora? Queria me sentir filho mais uma vez. Isso dói e faz falta, sentir-se filho, eu faço de conta que não, mas faz. Sinto falta dele. Das brincadeiras, das voltas de carro, das lutinhas, das risadas desenfreadas, dos filmes no final de semana, das histórias sobre a vida e sobre os sonhos. Eu queria ser como ele foi, mas não sou ele, eu queria fez o que ele fez, mas não fui forte o suficiente, eu queria encontrar sua aprovação, seu orgulho por mim, sua felicidade por mim, que ele visse que amadureci, que enfrentei tudo de peito, que eu me tornei alguém diferente, que eu ajudei quando ninguém mais podia fazer o que fiz, mas agora é tarde demais. Não existe amanhã pra que eu posso te contar.

Eu sinto tanta falta, o buraco no peito é meu. O adeus para o barco é meu. Isso dói, machuca, me rasga, não encontro remédio, não existe dose, não existe afago. Você morreu, você morre. Queria dizer que todos estavam de pé, que todos venceram, que todos permaneceram, mas não posso, queria dizer que tudo deu certo, que todos fizeram boas escolhas, mas não posso. Posso dizer apenas mais uma coisa. Eu ainda finjo força, e ainda finjo ser forte, finjo estar de pé, quando queria estar sentado, ainda finjo o grito quando a garganta dói, e a recompensa no final do dia, é sentir-se como nada. Eu continuo orando pra que meu timbre se assemelhe ao seu e eu lembre da sua voz. O barco do meu ser eu entreguei, e fiquei a deriva sem saber o que iria acontecer, chorei sozinho no meio do oceano, porque nem ao menos houve tempo para que me ensinasse a remar. Sinto sua falta, a mãe também. Queria ter dito uma palavra que bastasse pra que eu mudasse sua história. Se o amanhã existisse e eu pudesse levantar da cama pra te ver mais uma vez, se pudesse dizer, não vá, não o faça, seja cuidadoso. Se o amanhã existisse pra que eu pudesse mudá-lo, mas ele não existe, ele acabou, ele se perdeu no tempo, virou areia. Três anos depois, você viveu demais, você amadureceu, você nem ao menos lembra como seria a outra realidade em que ele voltou pra casa e te levou pro cinema, você não lembra do olhar, da voz, das atitudes, nem das decisões, porque a vida continuou, as pessoas mudaram, as histórias novas não são como as velha, e você perde a noção de prever o imprevisível. Três anos depois, você se dá conta da saudade, da necessidade do abraço que só ele sabia dar, da necesside de receber um conselho como ninguém mais pode oferecer no meu mundo social, das palavras paternais que me despertavam para a vida. Três anos depois você se dá conta de que o sol nasce todo dia, mas que aquele dia em especial que daria tudo para mudar não existe, não existe nenhum amanhã igual ao outro. Nenhum amanhã.

...and when the rain starts falling, it's too late. - Misty Edwards - People get ready

Um comentário:

Unknown disse...

Eu adoro tudo que tu escreve!!! Lembro de quando trocávamos textos e poesias. Desde lá, já sabia que tu tinha um talento nato pra isto e ainda bem que tu não deixou que o tempo e a adultez te tirassem esse dom das palavras de um menino! Eu não sei a dor que tu estás sentindo, mas lembro do dia em que tudo aconteceu e que eu não sabia o que te dizer, parecia que nada ia fazer sentido! Mas tenho certeza que teu pai, independente de onde esteja, tem muito orgulho de ti e do homem que tu te tornou! Tu és uma das pessoas mais nobres de sentimento que eu já conheci em toda a minha vida e tem a capacidade de daixar quelquer um que esteja ao teu lado, feliz e à vontade! Não deixa que o medo e a tristeza tomem conta de ti, guri! Fica forte aí, é o que todos que te amam e te conehcem, desejam! Sinto saudades de conversar contigo, de ouvir conselhos e me sentir mais leve! Só de estar do teu lado, já era bom! Quero que tu saibas que eu tenho um carinho muito grande por ti e independente do passar dos anos e da distância! Estou sempre torcendo por ti e pela tua felicidade! Sinto tua falta! Um grande beijo, Carol.