quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Can't see you

Havia uma criança sentada sobre uma pedra, esta era cheia de musgo, mas a criança não se importava. Sentada sobre aquele rochedo, imaginavam que ela pensava ser a rainha do mundo, ou alguém com grande poder. Todas as tardes ela subia a montanha e no mesmo lugar assistia ao por do sol, como uma espectadora aplaudindo aquela obra pintado com finos dedos por Deus. As pessoas ficavam imaginando o que se passava na cabeça de alguém tão pequena. A menina não se importava, ela continuava encarando toda aquela imensidão. E anos se passam como vento, como folhas, e nossos pais não gostam de pintá-los sobre as paredes da sala.

Ela tinha a idade de uma adulta, e ainda estava lá, sentada sobre a imensidão azul, laranja, rosa. Ninguém entendia se ela estava lá, ninguém gostava de palpitar sobre a garota observando o céu, ninguém ousava perguntar o que ela fazia, até o dia em que um homem, com vagarosos passos e com muitas dores fez o mesmo que ela fazia por muito tempo. E nada falou. No dia seguinte, uma criança fez o mesmo, e dias depois ninguém apareceu. Parecia que não havia motivos pra ninguém estar alí, as pessoas simplesmente tentavam descobrir por sí próprios o que aquela experiência pudesse transmitir. E isso era tudo.
Os pais da garota sempre estiveram por perto, tão perto que esqueceram de perguntar a ela o que ela pensava, onde ela se imaginava, se ela havia alguma dia pensado no futuro, nas histórias para contar antes de durmir. Mas acho que isso era apenas passado pra ela. Já havia se acostumado com a falta de pessoas, de pais, de família depois de tanto tempo. Sentada na frente do deserto de águas, ela propunha canções, palavras jogadas ao vento que moviam as tardes coloridas. Seus pais nunca souberam onde ela estivera, somente duas pessoas de idades distintas sabiam. Seu marido, sua filha.

Seus pais, nunca souberam onde ela passava as tardes, a noite, o dia, o amanhecer, o entardecer. Sua mãe estava sentada, tentando entender a vida, e seu pai depois de cansar-se tentando entender em livros o sentido da vida, sentou-se uma vez ao lado da esposa, e nunca mais voltou, porque morreu no momento em que entendeu o que as bibliotecas não lhe fazia sentir. A mãe não sucumbia a vida, porque nunca entendeu o sentido de nada, a filha, definhava cada dia sem mãe, sem pai, sem um cubículo no peito, gritando desanimada entre paredes, sem pais, sem vida, sem mãos, sem olhos sobre si, sentada em uma cadeira avermelhada, ao vento de outono, observando que sua mãe teria entendido tudo que sempre quis, se um dia tivesse enxergado seu sorriso.

Cuida do meu livro, eu nunca emprestei ele pra ninguém, cuida dele bem, cuida dele bem, eu disse, bem... Bem...

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